O Abel chegou, conversamos um pouco e ele ficou alí, cuidando das coisas, por alguns minutos, enquanto eu levava o carro para casa e voltava caminhando até aquele local. Conversamos um pouco mais e logo eu parti, com o Guaíba calmo, ainda dormindo.
Acho que beirava as 7:30 da manhã. Começar uma remada em um dia de sol e pouco vento é algo que traz um ânimo indescritível. Foi assim que começou o meu primeiro dia.
Sou um cara de pouco alarde, então avisei apenas os familiares e um grupo de amigos mais próximos, que estavam dispostos a me ajudar, caso fosse necessário.
Essa remada iniciava com um espírito diferente, era muito mais um desafio físico e mental, do que o tradicional remar e curtir. Seria remar e remar... remar e pensar...
O trajeto está plotado no mapa, gerado pelo equipamento SPOT, que peguei emprestado com o André. Mas, detalhando o trajeto, saí de Ipanema e fui direto para a Ponta Grossa. De lá, fiz um trecho até a Ilha Chico Manuel, onde parei numa prainha temporária na costa Norte da ilha. Essa prainha só existia por causa do baixo nível das águas do Guaíba.
Da Ilha Chico, aproei para a Ilha do Junco, numa parada discreta e rápida. Caminhei um pouco pela ilha, estava calor e eu já sentia mais os efeitos do vento, que parecia Leste e vinha da direção dos morros de Itapuã.
Ao sair da ilha, resolvi me aproximar dos morros, de forma a diminuir os efeitos do vento. Deu certo, até chegar ao farol Itapuã da Lagoa. Naquele momento, eu estava entrando definitivamente na Lagoa dos Patos, já era do meio para o final da tarde, não tinha certeza, pois não usava relógio. Neste momento também acabou minha conexão com o mundo virtual, não havia mais sinal no celular.
Minha ansiedade em chegar na lagoa estava ficando em paz. Eu queria chegar na lagoa naquele primeiro dia e descartar o perigo de, por algum problema, dar meia volta e acabar o dia em casa novamente. Nas minhas últimas férias, até tentei algumas remadas, mas pelo clima ruim acabei voltando pra casa. Gera uma certa decepção preparar tudo e ter que abortar o projeto.
Depois de entrar na lagoa, o vento Leste atuava mais sobre o caiaque e deixou um pouco movimentado aquele costão de pedras logo após o farol. Cruzei as pequenas e belas praias de Itapuã e fui para a Praia de Fora, com o objetivo de chegar o mais próximo possível da Ponta das Desertas, visando ser menos vigiado e reprimido por algum fiscal do parque. A Praia de Fora é grande, são 15 km de pura areia e monotonia...
Durante esse trecho final, quando parei para comer, sentado na areia, algumas vezes umas camionetes até passaram por mim, quase que ignorando minha presença. Que bom... Imaginei serem funcionários do parque.
Via de longe um temporal, que imaginei ser pelas bandas Tapenses. O temporal parecia feio, mas a imagem, estando de longe, era linda, parecia uma bomba que acabara de explodir. A cada minuto que passava, se aproximando o pôr-do-sol, a pintura ficava mais bela...
Tomei um bom banho de lagoa, para relaxar a musculatura, que ainda não estava acostumada com aquela rotina de remar. Havia definido uma regra sobre horários: devia remar até as 18:30 ou até começar algum temporal. Então seriam dias puxados. Fiz isso com o objetivo de aproveitar ao máximo os dias e ter maior probabilidade de concluir com sucesso a empreitada.
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