15º dia - 23/01/2016
A âncora que protege o navio contra as tempestades estará sempre nas profundezas, não no mastro.
Odair Alves de Oliveira
Neste dia foram 45 km remados, passando pelo Arroio Del Rey. |
O dia amanheceu calmo e com muito sol, perfeito para remar. Depois de todas as burocracias matinais, largamos para a água e nosso primeiro objetivo era entrar no Arroio Del Rey e conhecer o famoso Mastro do Itaqui.
Foi isso que fizemos: foram apenas 7 km de remo e já estávamos lá. Logo na entrada do arroio uma família pescando. O Anderson já ficou todo interessado em descobrir como eles chegaram lá de carro. No entanto, só demos aquele buenas e passamos por eles, pois queríamos mesmo era ver o tal mastro. Conforme a lenda, há mais de 50 anos, estava lá, na boca do Arroio Del Rey, o mastro do Barco Itaqui, que transportava cal de Pelotas para Curral Alto e o desembarcava naquele local.
Não sei do que madeira é feito o mastro, mas ele estava lá, firme e forte, sem sinal de desgaste. Provavelmente vai aguentar mais um bom tempo por lá...
Depois de ficar alguns minutos ali, voltamos e fomos conversar com o pessoal que pescava no acampamento. E pra falar a verdade: que baita acampamento. Eles estavam bem acampados, eram umas 7 ou 8 pessoas, mas nem todas ali no momento.
Conversamos um pouco, ganhamos, cada um, um copo de refrigerante bem gelado. Entre um assunto e outro, eu e o Anderson ficávamos olhando para a paleta de ovelha, pingando graxa no fogo. Que vontade de comer carne, pois desde a saída de Pelotas, estávamos só no atum e sardinha...
O Sidíco até nos convidou para ficar, esperar mais um tempo, e comer a ovelha junto com eles. Mas, o dia estava muito bom para remar, sem vento, diferente de todos os últimos dias. Resolvemos recusar o convite e seguir remando. Ainda me lembro daquela ovelha pingando graxa no fogo...
Saímos do Arroio Del Rey e apontamos para o leste, direto e reto... Fizemos isto pois, ao aproar para o sul, estaríamos voltando... O tempo estava bom e nada de vento. Aquela ansiedade nos fazia a cada momento, abrir um pouco mais a remada, para atalhar e ganhar tempo e distância. Repentinamente, depois de uma soprada de vento, ele começou a vir do sul, fazendo as ondas baterem de través nos caiaques, nos empurrando ainda mais para o meio da lagoa.
Chegou um momento que já estávamos sem forças, o cansaço era grande e areia parecia nunca chegar... É fascinante como o ser humano, quando sabe que ninguém mais poderá ajudar, que a situação pode piorar, consegue ânimo e força para continuar sua jornada...
Nos só queríamos chegar na terra e descansar... e depois de 18 km de travessia, chegamos, finalmente... Como costumávamos falar: mas que puxada!
Depois da travessia, remada costeira, aproveitando o vento de popa, vindo do sul... nos levando para a casa. :)
Final de tarde, montamos acampamento bem na frente de uma fazenda. A cachorrada passou o tempo todo latindo, avisando os donos da fazenda que alguém estava por perto. Mas eles não nos enxergavam, pois estávamos logo abaixo de um pequeno barranco.
Faltavam 25 km para chegarmos na Praia da Capilha.
16º dia - 24/01/2016
Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça.
No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.
Confúcio
Confúcio
Neste dia foram 25 km remados até a Praia da Capilha. Chegamos lá exatamente no pôr do sol. |
O dia começou com o vento bufando contra nós... Nada anormal, o nordeste é o vento predominante no verão.
Estávamos a 25 km da Capilha e com aquele vento, seria bem complicado chegar. Com apenas 6 km remados, tivemos que fazer a 1ª parada para descansar.
Lembro que por toda costa existiam grandes torres de energia elétrica. Eu e o Anderson ficávamos contando as torres, tentando encontrar ânimo e ter a certeza de que estávamos remando para frente... pois com aquele vento, nem sempre era fácil perceber isso. A cada parada, nos deitávamos e dormíamos, mesmo debaixo do sol e com muito vento.
Fizemos a 2ª parada, onde cogitamos até montar acampamento. Depois de quase 1 hora dormindo na beira da lagoa, resolvemos ir um pouco mais. Nessa 2ª parada tinha um bom capão de mato para acampar, bem protegido, mas mesmo assim, era cedo e resolvemos tentar a sorte e ir mais para frente.
Neste dia, o Anderson estava bem mais rápido que eu. Com o vento e as ondas batendo na proa do caiaque, o meu, que é bem mais largo, tinha mais dificuldade em pegar velocidade. O Anderson estava remando tão mais rápido que chegava a sumir da minha visão. Como era uma remada costeira, não havia problema. Depois de uns 15 ou 20 minutos eu cheguei onde ele estava parado. Tinha um capataz, a cavalo, conversando com ele.
Ficamos ali um tempo conversando e ele escutou nossas histórias, nos contou que tinha um irmão que morava na beira do São Gonçalo, nos falou que faltava pouco para chegarmos a Capilha... Não levei muita fé, pois já tinha feito as medições (ou porque eu já estava muito cansado), mas resolvemos continuar remando.
Passamos por torres de energia, que nas épocas secas ficam em terra. No verão, com o grane volume de chuvas, elas estavam totalmente dentro da água. Lembro que não me senti muito confortável em passar por debaixo daqueles fios. Bom estávamos na região do Taim e as capivaras começavam a aparecer...
Mais uma parada depois das torres. Foi a 4ª parada. Eu estava morto. A remada não rendia e o Anderson se distanciava muito em poucos minutos de remada. Pedi para pararmos ali e montarmos acampamento. O Anderson queria chegar na Capilha. Lá pelas tantas resolvemos trocar de caiaques.
A troca de caiaque nos deu (me deu) o ânimo necessário para chegar até a Praia da Capilha. Foi bem legal experimentar o Santa Cruz da M&G, caiaque mais rápido e menos volumoso. O Anderson que estava menos cansado, pegou o Artic e remou forte... Chegamos na Capilha no exato momento do pôr do sol. Era domingo e tinha muita gente por lá.
Fui logo registrar fotos da Capela do Taim, nome pelo qual é conhecida a Capela de Nossa Senhora da Conceição, situada no povoado do Taim, 4º Distrito do Rio Grande, próximo da Lagoa Mirim. Foi construída em 1785, sendo chamada pelos espanhóis "Capela de São Pedro" por estar no continente de São Pedro. Em 1844 foi reconstruída tendo entre seus patrocinadores o famoso Capitão Faustino Corrêa, fazendeiro da região. Foi concluída dois anos depois, quando foi criada a Freguesia do Taim. Embora o aspecto arquitetônico singelo representa a hegemonia da igreja durante o império. Em seu frontispício, encontra-se um "Relógio de Sol", que constitui motivo de curiosidade para os turistas. Recentemente uma equipe de técnicos da Universidade Federal do Rio Grande - Furg que realizou estudos e trabalhos arqueológicos nesta Capela encontrou vestígios da existência de uma outra capela no mesmo local que pode ter sido construída por volta do ano de 1700. Não foi o primeiro prédio religioso construído no local. Pelo menos duas outras já haviam sido erguidas ali, uma delas de madeira, a qual teve uma das paredes queimada. Conforme os estudos, cogita-se que a primeira capela tenha sido erguida para acompanhar um corpo de guarda de fronteira. A estrutura pode ter sido abandonada durante os 13 anos de ocupação espanhola. (fonte: http://caferiogrande.blogspot.com.br/)
Que praia bonita... quero voltar lá num final de tarde...
Depois fomos falar com o novo amigo Luiz Paiva Carapeto e sua esposa, que haviam nos gritado lá de cima dos barrancos, perguntando se éramos os remadores que estavam fazendo a volta na Lagoa Mirim.
Chegada registrada pelo novo amigo Carapeto. |
Será que os próximos trechos não teriam as mesmas emoções? Já havíamos realizado aquela remada, da Capilha até Pelotas antes, com o amigo Joel Ramos... Será que a remada seria igual? Será que alguma remada é igual?
Hora de parar e descansar? Montar acampamento na Capilha? Será?
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