22/02/2016

Expedição Graxaim pela Lagoa Mirim - Subindo o Canal São Gonçalo

Depois da Expedição Lagoa dos Patos 360º, quando eu (Pablo Grigoletti) e o amigo Anderson Cardoso fizemos a volta completa na Laguna dos Patos, a maior Laguna do Brasil, com seus 600 km, em Janeiro de 2015, acreditamos que não deveríamos parar... As experiências, os aprendizados, as pessoas, os lugares, a aventura... tudo isso nos fez querer mais. Assim, surgiu entre nós a ideia de fazer uma outra longa remada, durante o Janeiro de 2016... desta vez o destino era a maior Lagoa do Brasil, a Lagoa Mirim, com seus 500 km. Como sairíamos de Pelotas, somam-se mais 150 km para subir e descer o canal São Gonçalo.

Marcamos o início para o dia 9 de Janeiro de 2016. A saída seria feita no trapiche da Praia do Laranjal, em frente a Guarderia Prowind.

Dividimos a expedição em trechos:
- Subindo o Canal São Gonçalo
- Remando e caminhando... chegando no Farol da Ponta Alegre
- Ultrapassando fronteiras
- Remando no Uruguai, voltando para o Brasil, conhecendo o Porto de Santa Vitória do Palmar
- Mastro do Itaquí
- Rumo a praia da Capilha
- Descendo o Canal São Gonçalo

Neste primeiro relato, vou detalhar como aconteceu a subida do Canal São Gonçalo, que foi realizada em durante os 3 primeiros dias da expedição. Há quem diga que pode ser feito em 2 ou até 1 dia... Mas nós fizemos em quase 3 dias completos. O canal já era nosso conhecido, quando fizemos a Remada de Pré-páscoa. Mas naquela ocasião havíamos descido ele. 

1º dia - 09/01/2016

Um navio no porto é seguro, mas não é para isso que os navios foram feitos.
William Shedd

Foram 32km neste dia.

Sábado, dia 9, o dia clareou tranquilo, com um leve vento vindo do quadrante leste. Ao chegar na praia, perto do trapiche, para começar a arrumar as coisas, já haviam muitos remadores por lá: eram vários grupos de canoagem (Guerreiros do Remo, Confraria Caiacar, Piratas do Remo)  que iriam remar até a cidade de Rio Grande. Arrumamos nossas tralhas e a remada iniciou com a presença dos amigos Joel Ramos e Lucas Camacho. Eles iriam com a gente até a eclusa com a gente. Antes de partir, aquele clima legal, as famílias, os amigos, todos incentivando e dando conselhos...

O Joel estava remando com o Artic do Mundico. Eu estava com o meu Artic. O Anderson com um Santa Cruz, emprestado pelo Gustavo Feldman. O Lucas estava com o Artico da MG também.

Passamos pelo porto de Pelotas, depois pela ponte férrea e pelas pontes nova (Ponte Léo Guedes) e velha (Ponte Alberto Pasqualini), que ligam as cidade de Pelotas e Rio Grande.





 



Eu tinha entrado em contato com o senhor Claudecir Machado, que havia me dado as seguintes informações:

Os horários de abertura das comportas do canal de eclusagem são os seguintes:
Pela manhã = 09:00h / 11:00h
Pela tarde =  14:00h / 18:00h
Obs: Todos os dias, inclusive domingos e feriados.

Mesmo sabendo disso e faltando pouco tempo para as 14 horas, decidimos tentar passar remando... foi um momento complicado, mas bem divertido...


Depois da eclusa, resolvemos parar no primeiro local onde pudéssemos atracar os barcos... Remamos mais 1 km, margeando o junto... Finalmente paramos: hora de almoço... Em seguida, nos despedimos e os amigos pegaram o caminho de volta...


Depois de um dia inteiro de remo, o corpo já estava cansado, pois ainda não estava adaptado ao ritmo de remar o dia todo... Hora de montar o acampamento nas barrancas do São Gonçalo e descansar... Foram aproximadamente 32 km de remo.






Acampamento alguns quilômetros antes do Rio Piratini.

2º dia - 10/01/2016


Foram 25km neste dia.

Nunca fomos remadores tradicionais... raramente acordamos cedo... desta forma, iniciamos o 2º dia de remada... acordando tarde.



Das muitas curvas do São Gonçalo, conseguimos usar a vela em alguns trechos. Para que a vela ajudasse os dois, amarramos os dois caiaques e usamos a vela, junto com remada sincronizada... o resultado foi bem interessante...



 

 
 
A parada ocorreu alguns metros antes da Ilha Grande. Conseguíamos vê-la. A recepção foi feita por uma cobra que estava tomando sol na barranca...







Acampamento montado, hora de descansar e curtir a natureza... ahhhhh natureza...


Acampamos bem perto da Ilha Grande.
3º dia - 11/01/2016

A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.
Oscar Wilde

Se nada de extraordinário acontecesse, sabíamos que seria o último dia de canal São Gonçalo... Estávamos ansiosos para chegar na Lagoa Mirim. O dia iniciou com bastante vento. Logo nas primeiras horas fizemos uma pausa para descansar...


Foram 24km neste dia.





Nada fácil subir esses 75 km sempre com correnteza contra. Depois da Ilha Grande, passamos pela Ilha Pequena e finalmente chegamos ao distrito de Santa Isabel do Sul.

O Distrito de Santa Isabel fica distante cerca de 50 km da sede do município. O acesso só pode ser pela RS 473 / BR 116. Há oito anos a única balsa que permitia chegar ao outro lado do Canal São Gonçalo, tendo como opção mais próxima o município de Rio Grande, está desativada.

Nos registros da história consta que D. Pedro II, quando da viagem a Jaguarão, teria visitado o recente povoado de Santa Isabel. Era o ciclo do charque que enriquecia a todos. D. Pedro era o visitante ilustre. Viu construções belíssimas decoradas com azulejos importados da pátria-mãe, Portugal, interna e externamente em parte das moradias da Vila.

A histórica passagem de D. Pedro II por Santa Isabel, ocorrida quando a comitiva imperial vinha de Jaguarão para Pelotas, pelo canal de São Gonçalo, no ano de 1865, dá conta da grandiosidade do passado da Vila, que viria a se tornar município independente por 10 anos, de 1883 a 1893, com o nome de Santa Isabel dos Canudos.

Lá aconteceu o momento mais especial destes 3 dias. Conversamos bastante com o pessoal, visitamos a igreja, recarregamos um pouco da água e nos divertimos bastante com a criançada... Foi muito legal dar um pouco de alegria para aquela turminha :)









No final da tarde, seguimos em frente e chegamos ao Sangradouro, logo entrando na Lagoa Mirim. Paramos em um local muito bonito, na ponta da Reserva Biológica Mato Grande.


A Reserva Biológica do Mato Grande é uma das Unidades de Conservação do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Foi criada em 1975 pelo Decreto Estadual n° 23.798, delimitando 5.161 ha de mata atlântica no município de Arroio Grande. Objetiva preservar as áreas úmidas, campos arenosos e matas de restinga inclusas no Banhado Mato Grande, onde vivem espécies ameaçadas como o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis).



Depois do acampamento montado, hora de fazer um arroz com linguiça...











Acampamento na ponta da Reserva Biológica Mato Grande.
Agora é remar na Lagoa, rumo ao Farol da Ponta Alegre...

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