28/02/2016

Expedição Graxaim pela Lagoa Mirim - Remando e caminhando... chegando no Farol da Ponta Alegre

4º dia - 12/01/2016

A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar.
Érico Veríssimo


Foram 40km neste dia.

Levantei cedo, só para tirar algumas fotos do nascer do sol na Lagoa Mirim. Estava um pouco frio e acabei saindo enrolado no saco de dormir. Vi o nascer do sol, tirei algumas fotos e, como eu já sabia que o Anderson não iria levantar naquele momento, voltei para a barraca e peguei no sono novamente.







Era o nosso 1º dia na Lagoa Mirim... trecho desconhecido, tudo novo... estávamos empolgados e felizes por termos saído do Canal São Gonçalo... a remada parecia (e realmente estava) mais leve. A Lagoa estava calma, nos dando as boas-vindas.


Depois de remar por várias horas, no meio da tarde chegamos na Praia do Pontal, pertencente ao município de Arroio Grande. Lá é uma mistura de camping com praia... não sei bem se é uma área particular ou pública... Conversamos um pouco com o pessoal que estava lá na beira, tiramos umas fotos com a criançada, tentamos fazer contato telefônico mas não rolou...



Aproveitamos para descartar o lixo, descansar um pouco, tomar um banho na Lagoa, comer uma torrada, tomar uma cerveja e reabastecer a água (tivemos que comprar água em garrafas, pois não existia água potável lá).



Como podemos ver no mapa, fizemos uma quilometragem bem maior, só para conhecer a Praia do Pontal... mas valeu a pena... vai saber quando iremos lá novamente!!!


Seguimos em direção a Ponta Alegre... Então o vento Leste começou a bater na proa e diminuir o ritmo da remada... Passamos por algumas ilhas que existem entre a Praia do Pontal e a Ponta Alegre. Nestas ilhas não existe nenhum lugar para acampar... É tudo junco e banhado, ainda mais com a Lagoa bem alta... No entanto, tudo isso já estava mapeado...


Sabíamos que a parada seria depois da Ponta Alegre... onde tinha areia e poderíamos acampar... Paramos logo depois da curva... Escolhemos um lugar que tinha uma árvore perto da água... Sempre é bom ter uma árvore por perto, seja para esticar as roupas ou amarrar a barraca. Com o vento batendo, resolvemos colocar a lona em cima da barraca...



Faltavam ainda 5 km para chegarmos ao Farol da Ponta Alegre.



5º dia - 13/01/2016


Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. 
Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito.
Martin Luther King

O sábio teme o céu sereno; em compensação, quando vem a tempestade 
ele caminha sobre as ondas e desafia o vento.
Confúcio


Foram 5km neste dia.

Cedo da manhã, não havia nada de vento. Continuamos dormindo tranquilamente... lá pelas 8 horas o vento começou e não parou mais... Foi o dia todo, um vento muito forte vindo do quadrante sul. Com ele vinham as ondas... Tentamos remar, juro que tentamos... mas não teve jeito. Tivemos que carregar os caiaques por 5 km até chegarmos ao Farol da Ponta Alegre. Com aquele vento, o Farol era nossa única chance de montar um acampamento um pouco mais abrigado do vento...




Pode até parecer fácil puxar os caiaques, mas com as ondas batendo, seguido o caiaque enchia de água... e as vezes chegava a virar. Como puxávamos bem pela beira, muitas vezes o barco ficava encalhado... 


O farol não é bem na beirada da lagoa. Chegando lá, deixamos os caiaques mais perto da água e só carregamos as coisas que realmente iríamos precisar. Montamos a barraca atrás do farol, perto de uma mureta... o vento continuava forte...

 Era hora de subir no farol para conhecer o famoso Farol da Ponta Alegre.












No final de tarde, eu subi novamente, queria ver o sol morrendo no horizonte, lá de cima... Foi o único lugar onde o celular tinha sinal da Vivo #pegabem.











Neste dia não remamos... apenas caminhamos com os caiaques... foram os 5 km mais longos e cansativos de toda a expedição... Mas a gente sempre falava: temos que andar para frente... e foi isso que fizemos.


22/02/2016

Expedição Graxaim pela Lagoa Mirim - Subindo o Canal São Gonçalo

Depois da Expedição Lagoa dos Patos 360º, quando eu (Pablo Grigoletti) e o amigo Anderson Cardoso fizemos a volta completa na Laguna dos Patos, a maior Laguna do Brasil, com seus 600 km, em Janeiro de 2015, acreditamos que não deveríamos parar... As experiências, os aprendizados, as pessoas, os lugares, a aventura... tudo isso nos fez querer mais. Assim, surgiu entre nós a ideia de fazer uma outra longa remada, durante o Janeiro de 2016... desta vez o destino era a maior Lagoa do Brasil, a Lagoa Mirim, com seus 500 km. Como sairíamos de Pelotas, somam-se mais 150 km para subir e descer o canal São Gonçalo.

Marcamos o início para o dia 9 de Janeiro de 2016. A saída seria feita no trapiche da Praia do Laranjal, em frente a Guarderia Prowind.

Dividimos a expedição em trechos:
- Subindo o Canal São Gonçalo
- Remando e caminhando... chegando no Farol da Ponta Alegre
- Ultrapassando fronteiras
- Remando no Uruguai, voltando para o Brasil, conhecendo o Porto de Santa Vitória do Palmar
- Mastro do Itaquí
- Rumo a praia da Capilha
- Descendo o Canal São Gonçalo

Neste primeiro relato, vou detalhar como aconteceu a subida do Canal São Gonçalo, que foi realizada em durante os 3 primeiros dias da expedição. Há quem diga que pode ser feito em 2 ou até 1 dia... Mas nós fizemos em quase 3 dias completos. O canal já era nosso conhecido, quando fizemos a Remada de Pré-páscoa. Mas naquela ocasião havíamos descido ele. 

1º dia - 09/01/2016

Um navio no porto é seguro, mas não é para isso que os navios foram feitos.
William Shedd

Foram 32km neste dia.

Sábado, dia 9, o dia clareou tranquilo, com um leve vento vindo do quadrante leste. Ao chegar na praia, perto do trapiche, para começar a arrumar as coisas, já haviam muitos remadores por lá: eram vários grupos de canoagem (Guerreiros do Remo, Confraria Caiacar, Piratas do Remo)  que iriam remar até a cidade de Rio Grande. Arrumamos nossas tralhas e a remada iniciou com a presença dos amigos Joel Ramos e Lucas Camacho. Eles iriam com a gente até a eclusa com a gente. Antes de partir, aquele clima legal, as famílias, os amigos, todos incentivando e dando conselhos...

O Joel estava remando com o Artic do Mundico. Eu estava com o meu Artic. O Anderson com um Santa Cruz, emprestado pelo Gustavo Feldman. O Lucas estava com o Artico da MG também.

Passamos pelo porto de Pelotas, depois pela ponte férrea e pelas pontes nova (Ponte Léo Guedes) e velha (Ponte Alberto Pasqualini), que ligam as cidade de Pelotas e Rio Grande.





 



Eu tinha entrado em contato com o senhor Claudecir Machado, que havia me dado as seguintes informações:

Os horários de abertura das comportas do canal de eclusagem são os seguintes:
Pela manhã = 09:00h / 11:00h
Pela tarde =  14:00h / 18:00h
Obs: Todos os dias, inclusive domingos e feriados.

Mesmo sabendo disso e faltando pouco tempo para as 14 horas, decidimos tentar passar remando... foi um momento complicado, mas bem divertido...


Depois da eclusa, resolvemos parar no primeiro local onde pudéssemos atracar os barcos... Remamos mais 1 km, margeando o junto... Finalmente paramos: hora de almoço... Em seguida, nos despedimos e os amigos pegaram o caminho de volta...


Depois de um dia inteiro de remo, o corpo já estava cansado, pois ainda não estava adaptado ao ritmo de remar o dia todo... Hora de montar o acampamento nas barrancas do São Gonçalo e descansar... Foram aproximadamente 32 km de remo.






Acampamento alguns quilômetros antes do Rio Piratini.

2º dia - 10/01/2016


Foram 25km neste dia.

Nunca fomos remadores tradicionais... raramente acordamos cedo... desta forma, iniciamos o 2º dia de remada... acordando tarde.



Das muitas curvas do São Gonçalo, conseguimos usar a vela em alguns trechos. Para que a vela ajudasse os dois, amarramos os dois caiaques e usamos a vela, junto com remada sincronizada... o resultado foi bem interessante...



 

 
 
A parada ocorreu alguns metros antes da Ilha Grande. Conseguíamos vê-la. A recepção foi feita por uma cobra que estava tomando sol na barranca...







Acampamento montado, hora de descansar e curtir a natureza... ahhhhh natureza...


Acampamos bem perto da Ilha Grande.
3º dia - 11/01/2016

A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes.
Oscar Wilde

Se nada de extraordinário acontecesse, sabíamos que seria o último dia de canal São Gonçalo... Estávamos ansiosos para chegar na Lagoa Mirim. O dia iniciou com bastante vento. Logo nas primeiras horas fizemos uma pausa para descansar...


Foram 24km neste dia.





Nada fácil subir esses 75 km sempre com correnteza contra. Depois da Ilha Grande, passamos pela Ilha Pequena e finalmente chegamos ao distrito de Santa Isabel do Sul.

O Distrito de Santa Isabel fica distante cerca de 50 km da sede do município. O acesso só pode ser pela RS 473 / BR 116. Há oito anos a única balsa que permitia chegar ao outro lado do Canal São Gonçalo, tendo como opção mais próxima o município de Rio Grande, está desativada.

Nos registros da história consta que D. Pedro II, quando da viagem a Jaguarão, teria visitado o recente povoado de Santa Isabel. Era o ciclo do charque que enriquecia a todos. D. Pedro era o visitante ilustre. Viu construções belíssimas decoradas com azulejos importados da pátria-mãe, Portugal, interna e externamente em parte das moradias da Vila.

A histórica passagem de D. Pedro II por Santa Isabel, ocorrida quando a comitiva imperial vinha de Jaguarão para Pelotas, pelo canal de São Gonçalo, no ano de 1865, dá conta da grandiosidade do passado da Vila, que viria a se tornar município independente por 10 anos, de 1883 a 1893, com o nome de Santa Isabel dos Canudos.

Lá aconteceu o momento mais especial destes 3 dias. Conversamos bastante com o pessoal, visitamos a igreja, recarregamos um pouco da água e nos divertimos bastante com a criançada... Foi muito legal dar um pouco de alegria para aquela turminha :)









No final da tarde, seguimos em frente e chegamos ao Sangradouro, logo entrando na Lagoa Mirim. Paramos em um local muito bonito, na ponta da Reserva Biológica Mato Grande.


A Reserva Biológica do Mato Grande é uma das Unidades de Conservação do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Foi criada em 1975 pelo Decreto Estadual n° 23.798, delimitando 5.161 ha de mata atlântica no município de Arroio Grande. Objetiva preservar as áreas úmidas, campos arenosos e matas de restinga inclusas no Banhado Mato Grande, onde vivem espécies ameaçadas como o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis).



Depois do acampamento montado, hora de fazer um arroz com linguiça...











Acampamento na ponta da Reserva Biológica Mato Grande.
Agora é remar na Lagoa, rumo ao Farol da Ponta Alegre...