Dia 4 (07/01/2015): Na manhã deste quarto dia não conseguimos remar, devido a grande quantidade de chuva que ainda caía. Então ficamos abrigados, dormindo, esperando passar a chuva e o vento, que foram cessar perto do meio-dia. Com o atraso, a ideia era remar uns 25 km, passar a vila do Estreito ou chegar até as Cariocas.
Foi o primeiro contato com aquela estranha sensação de não poder ir para frente... de precisar esperar que algo terminasse para que pudéssemos seguir viagem.
Também começamos a aprender a ver os dois lados em todas as situações: em noites de chuva, apesar de apavorados com os primeiros temporais, era possível ver que depois do temporal, normalmente o vento vinha do Sul, nos ajudando a subir a costa Leste. Então, uma noite ruim era sinal de um bom dia de remada. No entanto, também tinham as coisas ruins no outro dia, como por exemplo, ter que vestir roupas totalmente molhadas logo depois de acordar... isso era bem ruim.
Fizemos a volta na Ponta dos Lençóis e depois de algumas horas de remada, paramos antes de umas casinhas, num lugar que é conhecido como Estreito. Logo veio um pescador de moto puxar conversa: era o Josiel. Ele nos ofereceu água e perguntou se não queríamos pernoitar na casa dele. Disse que as vezes levava peixes para vender na Z3. O Anderson pegou carona na moto e foi buscar água, depois voltou, conversamos mais um pouco e fomos embora, aproveitar as boas marolas vindas do Sul.
Naquele momento, ainda estávamos nos acostumando com essa coisa de falar com todos os desconhecidos... então, antes deles chegarem, já deixávamos uma faca na cintura, em caso de necessidade. Pura ilusão... Sempre fomos bem recebidos, bem tratados. Hoje tenho muita vergonha disso.
No caminho, já no final da tarde, tentamos chegar perto de um barco da FURG, que fazia estudos na região... eles fugiram quando estávamos nos aproximando... Logo depois, encontramos um barco de pescadores. Esses pescadores, o Lair e o Antônio Carlos, falaram "vocês são corajosos remando tão abertos, se bate um terral vocês não voltam mais...". Nós perguntamos se eles tinham algum peixinho para nos dar e eles nos ofereceram duas tainhas. Eles jogaram os dois peixes dentro do meu cockpit, agradecemos e seguimos...
Muito junco na margem, até encontramos uma entrada. Acampamos então, num local cujo nome dito pelos pescadores era "Cariocas". Era um local feio, com muito junco e mosquito. O Anderson me deu uma aula sobre como limpar um peixe.
A montagem da barraca aconteceu na chuva... ficamos meio desesperados, pois não estávamos conseguindo montar a barraca por causa da chuva e já estava escurecendo... Aquela foi mais uma noite de chuva.
Dia 5 (08/01/15): A meta para o quinto dia era alcançar os restos (ruínas, destroços) da construção do Farol do Bojuru, um trecho longo de remada. Mas antes disso, estávamos na expectativa de avistar os famosos Engenhos da Barra Falta... Perto das 15 horas da tarde, paramos um pouco antes dos Engenhos, que o Anderson já havia avistado há algum tempo...
Mesmo com as madeiras muito molhadas, conseguimos assar as tainhas no fogo de chão.
Depois de comer, logo chegamos aos famosos Engenhos do Bojuru, que era uma referência na nossa carta náutica. Ao chegar nos engenhos, precisávamos de água, e encontramos o Sr. Nereu, dirigindo um trator, arrumando o alambrado, que nos autorizou a descer... Nos conseguiu água, conversou um pouco e depois foi olhar nossos barcos... quando estávamos saindo ele dizia "vocês vem por esse marzão, tem louco pra tudo, não estou acreditando" e se matava rindo... pessoal divertido aquele.
Ao final do dia, chegamos nas ruínas do Farol do Bojuru... tiramos algumas fotos, ficamos felizes por estamos em um ponto que era conhecido no mapa... Acampamos ali perto... Fiz uma massa, tomei um bom banho de lagoa... tudo isso depois de ter terminado de montar o acampamento... demos também umas voltas pela redondeza, para conhecer o lugar.
Nestes dois dias de remada fizemos aproximadamente 60 km e encontramos algumas pessoas por esse caminho. A bondade e alegria deles já era um diferencial... nos contagiava... no enchia de alegria, de força e esperança para continuar remando e descobrindo, a cada dia, um pouco mais sobre as pessoas e os locais existentes na Lagoa dos Patos...
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