16/01/2025

Remada da Meia Volta


O caiaque do mar não corta sulcos e não deixa cicatrizes. Como um grupo de remadores, nos aventuramos por um litoral remoto, cada um de nós remando em um mundo próprio, embora possamos ter um líder ou guia, cada um é capitão de seu próprio caiaque. Nós nos reunimos no final do dia, para compartilhar o tempo ao redor do fogo ou buscamos a privacidade de nossas próprias tendas. As expedições nos oferecem uma independência única, mas também fazemos parte de uma tribo. Nossas jornadas nos dão um vislumbre de um modo de vida nômade, uma vida de antigamente, onde a natureza é rei e somos servos dela.

The sea kayak cuts no groove and leaves no scar. As a group of paddlers we venture down a remote coastline, each of us paddling in a world of our own, although we may have a leader or guide, each is Captain of their own kayak. We come together at the end of the day, to share time around the fire or we seek the privacy of our own tents. Expeditions offer us a unique indepence, yet we are also part of a tribe. Our journeys grant us a glimpse into a nomadic way of life, a life of yesteryear, where nature is king and we are servants to it.
 (Jeff Allen)

Era uma remada mais light, sem objetivos muito rígidos, com a intenção de conhecer um pouco da parte Norte da grandiosa Lagoa dos Patos, também conhecida pelos pescadores locais como Mar de Dentro. O Márcio, remador aquerenciado no litoral norte gaúcho, ainda não conhecia a região e queria remar por lá. Havíamos conversado e após combinar alguns poucos detalhes, definimos uma data boa para nós dois. Combinamos de sair dia 01/01/2025 aqui de Ipanema (Porto Alegre, RS, Brasil) ir até onde fosse possível, dentro de uma janela de tempo até o dia 12/01/2025, quando ele precisava estar de volta. A ideia era terminar a remada aqui mesmo em Ipanema, fazendo um trajeto circular.

Apesar de não ter objetivos rígidos, havíamos tracado um plano mínimo, que caso conseguíssemos realizar seria muito bom:

Em vermelho: trajeto planejado.
Em azul: trajeto realizado.

Dia 1 - 01/01/2025 - de Ipanema até as Desertas




Saímos de Ipanema, da rampa das motos aquáticas (Jetskis), por volta das 8:15 da manhã. Guaíba calmo e receptivo, dia de sol, apesar de na noite anterior ter chovido um pouco. Do ponto inicial avistávamos a Ponta Grossa, nosso primeiro destino.

Tudo organizado, demos um até logo para a Fernanda e seguimos rumo a Ponta Grossa, devagar, nos adaptando aos caiaques carregados. Foram uns 5 km para ir aquecendo os braços. Ao passar pela Ponta Grossa, o Guaíba se abre e mostra verdadeiramente seu tamanho. Avistamos de longe as baleias, estruturas de concreto que demarcar a presença de pedras... 

Fazia bastante tempo que eu não remava, nem mesmo estava treinando. Só estava fazendo natação 2x por semana. Então eu sabia que não seriam fáceis estes primeiros dias.  

Depois dalí, fomos até a Ponta do Arado Velho, local envolvido em notícias nos último tempos, por conta da construção de um condomínio (uma das notícias aqui). Fizemos uma breve pausa para esticar as pernas perto da Ponta do Arado. Ali perto fica a marina do Lessa.

Logo aproamos para a Ilha do Chico Manuel, onde paramos também. Márcio foi comer alguma coisa e eu tentei encontrar o famoso Toco, mas ele não estava mais lá. Tinha um gringo (acho que argentino) com seu filho, trabalhando de caseiro naquele dia. Nem sei se o Toco ainda trabalha na ilha!

Paramos no extremo sul da parte interna da ilha, justamente para poder olhar como o Guaíba estava dalí para frente. Então, parados na ilha, pensamos sobre nosso trajeto: por qual costa da lagoa seria melhor descer? Conversamos um pouco e decidimos descer pela costa Leste. 

Da Ilha do Chico Manuel, fomos direto para Ilha do Junco, que já faz parte do parque de Itapuã. Chegando na ilha o vento já estava mais forte, de Leste. Paramos alguns minutos para comer e descansar. De Ipanema até o Chico são aproximadamente 17 km. Do Chico ao Junco são 14 km de travessia, passando pelo canal de navegação. Tivemos companhia de 2 navios, um chegando e outro partido de Porto Alegre.

Ilha do Junco.

Logo depois combinamos de encostar um pouco nos morros de Itapuã, para abrigar do vento e ir até o farol. Combinamos de aproar para o costão antes da praia do Sítio. Dito e feito, chegando perto do Farol Itapuã da Lagoa, tudo mais calmo, protegido do vento pelos altos morros. Finalmente estávamos deixando o Guaíba e adentrando na Lagoa dos Patos.

Seguimos remando até as Desertas, onde já foi possível sentir o vento novamente.

Total de 41,5 km remados.

Ao passar pelo farol, fiquei feliz de vê-lo conservado. Tenho a impressão de na última vez que passei lá, estar meio destruído, parcialmente destelhado até. Vi algumas várias boias arredondadas laranjas na parte Sul da praia do Sítio, mas não me aproximei para ver exatamente o que era: - Fiquei curioso! 

Do farol até as Desertas, diversos trechos formados por paredões de grandes pedras (algumas com as famosas argolas encravadas. Até hoje não sei exatamente para que serviam aquelas argolas?). A única exceção é a praia do Tigre. 

Este trecho, do farol até as Desertas, estava bem mexido, dava a sensação de estarmos remando no mar, aquele swell mais gordo fazia o caiaque subir e descer lentamente. Eram as boas vindas da Lagoa dos Patos. Apesar de um pouco bagunçada a água, foi possível curtir um dos trechos mais bonitos da lagoa.


Foi um dia puxado, remamos juntos na maior parte do tempo. Pra variar, já fiz várias bolhas nas mãos, mesmo usando luvas. O Márcio também relatou estar com algumas bolhas.

Tava chegando um temporal e resolvemos parar antes que este chegasse de fato, para podermos arrumar o acampamento. Márcio também tinha acordado bem cedo naquele dia e descansar seria fundamental para a continuação da jornada. 

Assim, não deu para evoluirmos muito na praia das Desertas, mal passamos um antigo aerogerador,  apesar do objetivo iniciar ser acampar bem no final para fazer uma travessia cedo, no início do outro dia, quando supostamente a lagoa ainda está calma e preguiçosa.





Polenta com queijo e batata palha foi o rango do dia.

Rango feito pelo mestre cuca Márcio, banho tomado, tudo tentando não chamar muito a atenção. Hora de descansar, pois o primeiro dia tinha terminado.

Lembrete: Quanto mais pra ponta das Desertas, menos árvores e arbustos... Tem a árvore grande solitária lá no final.

Dia 2 - 02/01/2025 - das Desertas até a costa Leste de Lagoa dos Patos


Dia começou cedo, antes das 6h, quando o Márcio gritou de dentro da sua barraca: - Hora de acordar. Acampamento desmotando e café tomado, hora de ir pra água e aproveitar o dia. 

Nos despedimos das Desertas, deixando aquele lugar exatamente do mesmo jeito que encontramos, sem fazer fogueira, sem deixar nenhum lixo para trás. Esse é o espírito de quem viaja de caiaque, causar o menor impacto nas áreas que anda e acampa. 

Logo no início da remada vimos duas famílias de capivaras, aproveitando os primeiros raios de sol para tomar água ou um banho de lagoa.




Depois de aproximadamente uns 12 km, chegamos na Ponta das Desertas. Paramos um pouco para descansar e dar uma olhada para a imensidão da lagoa. Alí é um ponto que tem água quase 360º e a gente vê exatamente o quão majestosa é a Lagoa dos Patos.

Como a lagoa estava tranquila e o vento era quase inexistente, arriscamos a travessia maior, 20 km, que nos faria economizar uma boa quilometragem, comparado com a volta pelo saco da Varzinha, ou mesmo com uma travessia até a Ponta do Abreu.

Ponta das Desertas, olhando para o Saco da Varzinha.
Aqui a lagoa realmente se abre, e tem água quase nos 360º que conseguimos ver... 



Foi uma travessia bem legal, remamos sempre juntos. Havíamos combinado que se algum de nós notasse certo distanciamento era só apitar que os dois deveriam buscar a aproximação. O início da travessia é sempre complicado, pois mal se vê algo do outro lado, apenas uma pequena mancha escura, que deveria ser um mato bem alto...

Mas fomos indo, remando e logo a costa Leste da lagoa foi se apresentando, o mato crescendo, beeeeemmmm lentamente. Lembro que estava bem calor e muitas vezes enchíamos os chapéus com água para refrescar a cabeça. Paramos algumas vezes para comer. Mais perto começamos a ver a areia amarelada, sinal que já estavamos chegando bem próximos da costa. 

Travessia de 21km concluída, hora de um bom banho de lagoa para relaxar e esticar as costas. Além de um rango para repor as energias. Depois seguimos descendo a costa num ritmo bem lento. Acho que a travessia de 21 km mais os 11 km das Desertas haviam nos cansado. O corpo ainda não estava acostumado, era apenas o segundo dia da remada.


Márcio aproveitando para relaxar nas águas limpas da costa leste.

Aquele primeiro trecho da lagoa é longo e monótono, somente alguns matos de Eucalipto de vez em quando. Algumas cercas que entram pela lagoa também aparecem de tempos em tempos. Ou seja, mesmo costeando a remada se torna tão monótona quanto uma travessia em águas calmas.



Final da tarde, começou a escurecer o céu e decidimos novamente achar um lugar para montar acampamento antes que a chuva chegasse. Estranhamente tinham nuvens de chuva dos dois lados: Nordeste e Sudoeste. Nós estavamos entre elas...   

Acampamos praticamente alinhados com o final da Lagoa dos Gateados, 
na beira da fazenda Roça Velha.

Nuvens olhando pro Sudoeste.

Nuvens olhando pro Nordeste.



Aquele trecho da lagoa tem faixas de areia bem extensas, o que dá mais trabalho para carregar os caiques até um ponto "seguro", onde não chegará a água na madrugada. Mesmo assim, fiquei feliz de não carregar o caiaque sozinho, que é bem pior.

Acampamento pronto, banho, hora de preparar o rango... O temporal estava chegando... Não deu tempo nem de aprontar o arroz! Chuva, ou melhor, temporal! Cada um pegou um pouco do rango (arroz, feijão, linguiça e o resto da polenta) e foi comer dentro das barracas. 




Bateu bastante chuva e duas lindas tempestades elétricas, pra quem gosta é claro. Depois da primeira chuva, céu vermelho, um espetáculo... Achei que iria ser aquilo... Mas, mais tarde, veio outra pancada de chuva com bastante raio também. Lembro apenas de um que estourou ali perto.

Dia 3 - 03/01/2025 - Acampamento


Acordei cedo e me deparei com muita areia entrando na minha barraca. Esta barraca não tem aquelas saias que ajudam a proteger do vento (e da areia). Logo que acordei passei um bom tempo construindo uma barreira para proteger nossas barracas do vento Sul. Chamamos o local de Acampamento do Castor, animal que também junta vários tocos de madeira para fazer barreiras nos rios.



O vento batia rajadas de 32 km/h já no início da manhã e 25 km/h de vento constante.


Várias famílias de carneirinhos na lagoa...

Ainda sem achar um local com sinal de internet, ficamos pensando numa estratégia do que fazer:

1) remar contra o vento Sul, que estava bem forte, e tentar descer até as Caieiras. Era possível, mas ia ser muito desgastante e lento.
2) voltar e aproveitar o vento a favor. Teria um risco, pois a lagoa estava bem nervosa.
3) esperar um tempo ver se conseguíamos internet e mais informações para decidirmos melhor.

Resolvemos ficar por lá, fizemos um bom café num mato de eucalípto que tinha por perto. Naquele mesmo dia, pessoal da fazenda Roça Velha chegou lá para conversar e saber se a gente tinha "ficado empenhado". Falamos que o vento tinha mudado e estava complicado continuar, mas estava tudo bem. 

Ofereceram água e internet se precisássemos. Agradecemos e falamos que iriamos ficar por alí até o clima melhorar um pouco. Eles relataram que haviam nos visto chegar e ficaram preocupados com o temporal da noite anterior.



Não sei por que motivo, pelas 19 horas o vento estranhamente acalmou, depois de um dia intenso. Junto com ele a lagoa também amansou, permitindo um bom banho ao final da tarde.


Nesse momento, ao ver um final de tarde assim, 
lembro do quanto gosto de visitar a costa leste da Lagoa.

Dia 4 - 04/01/2025 - Acampamento e tentativa 1




No dia anterior consegui um ponto com internet e pegamos a previsão do tempo. Milagre conseguir sinal da CLARO e não ter um sinal da VIVO, mas é assim... Havia ligado pro Demathe pra pedir pra ele me confirmar se era aquilo mesmo que eu havia visto no Windy: - o vento duraria uns 3 dias, de Sul e Sudoeste, iria enfraquecendo até virar para Leste fraco. Ele confirmou.

Lá estava eu buscando um sinal de internet para ver a previsão do tempo... 

Acordamos e achamos que seria possível voltar a remar, subindo a lagoa. O vento estava entrando de Sudoeste e naquela costa da lagoa tem muitos bancos de areia, detalhe que já havíamos notado na prática e que o Márcio identificou também na carta náutica.

Desmontamos acampamento, tomamos café: - Hora de ir pra água! #sqn

Márcio estava pronto antes de mim e disse: vou indo que demoro mais pra entrar. Disse um ok e segui arrumando meu caiaque na beira d'água. Peguei a câmera e fui fazer um vídeo dele entrando naquela máquina de lavar. Gravei alguns minutos, então fui guardar o celular e entrar pra água também, pra ele não ficar me esperando muito tempo. Sabia o quão ruim é ter que ficar esperando (ou diminuindo o ritmo) quando a água está agitada.

Seriam essas as famosas ondas de 3 metros?

Guardei o celular e quando olho pra água novamente: Cadê o Márcio? Olhei pra frente no horizonte, achando que o vento já pudesse ter levado ele bem pra frente, mas não achei nada. Voltei o olhar e notei o casco do Explorer, amarelo, virado pra cima. Havia capotado, devido as ondas que quebravam sem dar trégua. 

Diferente do mar, onde as ondas normalmente quebram em um intervalo maior, na lagoa elas acabam chegando muito juntas, dando pouco tempo para aprumar o caiaque entre uma e outra. São até chamadas de 3 Marias, por virem sempre juntas... 

Puxei meu caiaque mais para o seco e corri pra ajudá-lo. Já estava "dando pé". Ele estava tranquilo e puxou o caiaque até a terra. Conversarmos um pouco e achamos melhor esperar o próximo dia, onde a previsão seria um pouco melhor. Puxamos o caiaque dele até onde estava o meu. Decidimos caminhar um pouco para tentar achar o boné e uma garrafinha de água que haviam se soltado do caiaque. Achamos a garrafinha depois de caminhar bastante, o boné ficou pra Iemanjá.

Vimos também um Biguá que não conseguia voar, assustado aos nos ver por perto, na beira da água. Fiquei com pena. Provavelmente iria morrer logo, ali sem poder voar nem se alimentar. 

Montamos acampamento novamente e passamos o dia comendo e descansando no "agora nosso" mato de eucalipto. Neste acampamento vimos algumas lebres correndo durante o dia. Nos campos do fundo tinham emas ou avestruzes, não sei bem. Eu havia levado um monóculo, o que é bem legal para ver as coisas de longe. 

Nossa tentativa de sair do Acampamento do Castor.


Neste dia, curiosamente, pelas 19 horas o vento acalmou também. Márcio chegou a propor de remarmos a noite se a lagoa ficasse calma, o que não aconteceu.

Dia 5 - 05/01/2025 - Acampamento e tentativa 2, + caminhada


Neste dia, parecia que a lagoa tinha acordado um pouco menos agressiva e decidimos tentar voltar para o Norte. Já haviamos ficado dois dias parados naquele lugar e quanto mais tempo parado, parece que mais a gente vai se acomodando e se incomodando de ficar parado. Acabamos perdendo o ritmo.

Fomos pra água e mesmo com o vento, não estava tanta quebradeira de ondas, imaginei que era devido a direção do vento estar mais Sul do que Sudoeste. Seguimos bem por aproximadamente 6 km, Márcio mais na frente, eu um pouco depois. Chegando no km 6 o Márcio embicou pra costa e foi pra terra.

Vendo ele em terra, também aproei para o mesmo lugar, surfando boas ondas (e infelizmente perdendo a penúltima garrafa de 1,5 litros de água, quando inclinei demais o caiaque ao brincar nas ondas). Ao surfar as ondas, notei que mesmo pequenas elas tinham boa energia, pois fiquei um bom tempo surfando numa delas. Márcio confirmou essa percepção, em uma conversa posterior.

Chegando lá Márcio falou que estava complicado manter a direção e o alinhamento do caiaque. Pensamos que poderia ser por causa do skeg (o Explorer tem skeg e o Egeo um bom e grande leme, o que facilitava bastante minha vida). Não era uma certeza, apenas um palpite.


6,56 km em 1 hora.

Ajustamos as coisas e decidimos seguir mais um pouco, pois apesar do desconforto em manter a direção, estávamos evoluindo bem. Voltamos pra água, Márcio mais na frente e eu depois. Ele já havia passado a zona de arrebentação e eu estava tentando chegar perto dele. Quando eu já estava bem próximo, uns 50 metros, vi que ele capotou novamente, mais pro fundo da lagoa desta vez. Ficou ali boiando tranquilo, mas o caiaque Explorer foi se afastando. Primeiro perguntei se ele estava bem e depois fui em busca do caiaque dele. Cheguei no caiaque e peguei um cabo curto para ir rebocando. Que coisa bem ruim é rebocar com cabo curto, dificulta remar, dificulta tudo... Deve ter alguma forma melhor, vou pesquisar e treinar. 

Levei o barco até perto do Márcio e perguntei se ele conseguia nadar até o barco, ele disse que não. Levei até mais perto ainda e ele pediu para tentarmos ir pra terra, ao invés de tentar reentrar no barco.

Conseguimos juntar Márcio, o caiaque e o remo. Ufa, sabendo que ele estava bem e tranquilo, fico sempre pensando principalmente na possibilidade de perder algum equipamento.

Passei o mosquetão de um cabo de resgate mais longo para o Márcio e pedi pra ele conectar na linha de vida da proa. Depois pedi pra ele ir pra popa do barco, para servir de contrapeso e facilitar direcionar o Explorer. Tudo certo, fomos lentamente em direção a terra. Aquele vai e vem que faz dar uns trancaços a cada onda que passa. 

Achei até que poderia dar algum problema mais para a beira, onde tinham ondas quebrando, mas até que não... 

Foi bem demorado chegar na areia, mesmo nós estando relativamente perto. Fiquei imaginando um reboque deste tipo longe da costa, deve demorar muito. Isso que o Márcio ainda ajudava nadando na popa do seu caiaque.

1,5km em 30 minutos.

Chegamos em terra, tudo bem, sem machucados, sem boné perdido. Ficamos ali um tempo e depois Márcio me perguntou quais eram as opções... Pensei um pouco e disse:

1) podemos ficar por aqui e montar acampamento, amanhã a previsão era de menos vento ainda.
2) podemos seguir, quem sabe até trocar de caiaque.
3) podemos esperar um tempo ver se a situação melhora.

Ele levantou uma outra opção: seguir caminhando pela beira. Era uma opção, mas falei que eu já tinha tido essa experiência e era bem cansativo. Eu e o Anderson caminhamos por 5 km na Lagoa Mirim, perto do Farol da Ponta Alegre, e foi extremamente cansativo.

Ele quis tentar. Eu preferi ir pela água, pois carregar o caiaque cheio, arrastando pela beira, com as ondas batendo, me parecia muito cansativo.

Combinamos de ir relativamente juntos, sempre mantendo contato visual. Ele iniciou a caminhada e eu fiquei esperando um tempo. Quando ele já estava longe eu comecei a remar. Então, depois de um tempo passei ele e quando eu já estava distante, parava na margem e esperava ele chegar. Fizemos isso umas 2 ou 3 vezes até chegarmos na Ponta do Anastácio, ou quase na ponta.



Márcio botou um ritmo forte, quase 5 km/h. Tinha como objetivo chegar de qualquer jeito na ponta do Anastácio. Fico imaginando o quão cansativo não foi fazer todo esse trajeto.

Numa das paradas que fiz, prendi bem o remo reserva, a água e a bomba de esgotamento, pois as ondas já estavam batendo forte e passando por cima do caiaque, mesmo eu estando remando mais no fundo da lagoa. Estava com medo de perder algum equipamento.

Na chegada no Anastácio acelerei um pouco, pois já estava cansando de remar só olhando pras ondas que chegavam do Sul, pelo través de popa do caiaque. É uma remada complicada, as vezes tem que "freiar", outras vezes "acelerar" para que a onda não quebre justamente encima do caiaque. Outras vezes, não tem o que fazer a não ser apoiar, até ser possível remar novamente.

Cheguei no Anastácio, num lugarzinho com algumas moitas para nos protegermos do vento. Deixei o caiaque lá e voltei caminhando para encontrar o Márcio. Caminhamos juntos no finalzinho do trajeto. 

13km em 3:30, caminhando e arrastando o caiaque.

Exploramos um pouco a ponta do Anastácio, para ver se era possível acampar ainda mais na ponta, mas dedidimos ficar por ali mesmo.

Acampamento na Ponta do Anastácio.

Olhando pro Sul.

Olhando para os cataventos, já do outro lado da lagoa.



Marco geodésico no meio do banhado. 
Do outro lado, na Ponta do Abreu, um marco semelhante pode ser visto nas postagens 1 e 2 do Leo Esch e da Tiane.


Muitas aves por ali, deve ser bom de peixe.

Acampamento montado, Márcio foi deitar, estava com as pernas muito inchadas e vermelhas (mesmo passando protetor solar, a água vai tirando e as pernas ficam desprotegidas do sol) . 

Eu fui me esconder do sol numa das poucas árvores vivas e com folhas que tinha por lá. Só tinham Maricás mortos e bem espinhentos. Depois fomos jantar e dormir cedo, pois o dia havia sido bem puxado. Numa das conversas que tivemos, Márcio avisou que poderia parar na Varzinha, se os ventos não estivessem ajudando. Ficamos de ir avaliando.



Lembrete: prender melhor a água nos elásticos, ou até mesmo guardar. Será o skeg bom para situações onde o vento e as ondas não tem uma constância? Ou nesses casos o leme é a melhor opção? Em locais mais abertos, mais de 20 km/h já fica bem ruim de remar contra... A favor, fica turbulento, arriscado, mas é possível.

Dia 6 - 06/01/2025 - Final na Varzinha


Acordamos cedo, arrumamos acampamento e nem tomamos café. Existia uma preocupação com o vento, mesmo que as previsões não apontassem para algo preocupante. Mas previsão é só previsão né! Arrumamos as coisas e partimos para um ponto a esquerda dos cataventos. 

Márcio imprimiu um ritmo mais forte e eu fui apenas seguindo aquele caiaque que ia se distanciando pouco a pouco. Depois de um tempo ele parou para me esperar e eu consegui alcançá-lo. Neste momento olhou o Google Maps, para ver onde exatamente estávamos e para identificar onde era o camping da Varzinha. 

Ele olhou o celular por alguns segundos e logo falou: - Estamos na Lagoa do Casamento. Erramos um pouco o bordo. Faz parte, visualmente não é fácil identificar exatamente a Ponta do Abreu. Remando no sentido inverso também não é fácil identificar bem a Ponta do Anastácio.

A dica é: olhar para qualquer pedaço de terra a esquerda dos cataventos e ir pra lá... Não se preocupe, não vai estar indo para a ponta das Desertas, que é muito longe e plana.


Cruzamos entre duas ilhas, que nem aparecem direito nos mapas:


Depois disso, fomos costeando todo o tempo. Numa das paradas conversamos sobre parar ou não na Varzinha e decidimos encerrar por alí. Assim, pegamos o telefone e já tentarmos agilizar algum tipo de resgate, ver as opções. Depois de alguns telefonemas, a Fernanda falou que poderia nos buscar lá no camping pelas 16 horas (o Ricardo Dunker também se colocou à disposição, só que mais tarde). Ficou assim combinado e assim aconteceu. 

Remamos até a Varzinha, chegamos pelas 10 horas lá. Ficamos comendo e usando Wifi até as 15 horas. Neste horário, recolhemos e organizamos os equipamentos para a chegada do resgate. E pelas 16:30 a Fernanda chegou e nos buscou... Fim de mais uma remada.



Mesmo caiaque de 2014.

Foto de 2014.

Nem sempre a lagoa está favorável para remada, mas foram bons dias, de aprendizado, algumas risadas, bons finais de tarde, tomando um bom chimarrão na beira da lagoa. Aprendi muito de acampamento, cozinha e assuntos gerais com o Márcio. O cara é meio estilo professor Pardal, sabe de tudo.

Cada vez que remamos em lugares diferentes, em situações diferentes, vemos o nosso comportamente e o comportamento dos nossos barcos, entendemos a dinâmica das coisas e nos adaptamos, pois quem comanda tudo é sempre a Natureza. Parece clichê, mas sempre é bom relembrar, pois algumas vezes, na correria dos dias, acabamos esquecendo.

Enfim, conhecemos mais um pouco da costa Leste da nossa Lagoa dos Patos. 

Iniciamos juntos, terminamos juntos, remada nota 10. Que venham outras!

Lembrete: foi bom ter deixado o carro preparado para um possível resgate. Só faltou deixar abastecido e por isso tomei um puxão de orelhas da Fernanda.

Obrigado Demathe, Leo Esch, Pedro Piqueres, pelas revisões e dicas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário