09/10/2018

Faróis das Lagoas Gaúchas (Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim)

A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar.
Érico Veríssimo


Os índios Patos (Carijós) foram os habitantes primitivos do entorno da maior lagoa brasileira, a Lagoa dos Patos, ligação entre Porto Alegre e o Oceano Atlântico. Com a invasão da cidade de Rio Grande pelos espanhóis em 1763, a capital da província de São Pedro do Sul (atual estado do Rio Grande do Sul) foi transferida para Viamão, cujo porto daria origem à Porto Alegre.

O farol de ITAPUà

30 23,13S / 51 03,61W Viamão, RS
Lp.B.6seg.17m.12M




Desde então, a Lagoa dos Patos se transformou num movimentado corredor náutico. Para sinalizar o ponto onde o rio Guaíba encontra a lagoa, foi inaugurado em 1 de março de 1860 um farol, projetado pelo Tenente Coronel Jardim e executado pela comissão militar de engenharia da província.


Alí, na ponta de Itapuã (ponta de pedra ou pedra redonda em tupi-guarani) existiu um forte erguido durante a guerra dos Farrapos (20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845). Sua torre octogonal de alvenaria tem 13 metros de altura e se levanta do centro da casa dos faroleiros. Seu equipamento luminoso era catóptrico (produzido por reflexão ou baseado nela) de luz fixa com alcance de 12 milhas, substituído em 1904 por um dióptrico BBT de 5ª ordem.

Os faroleiros foram dispensados em 1926, quando o farol passou a funcionar automaticamente com equipamentos AGA à gás acetileno. Atualmente dispõe de lanterna de acrílico alimentada por energia solar. O farol está na área do Parque Estadual de Itapuã.



O farol CRISTÓVÃO PEREIRA

31 03,76S / 51 09,89W Mostardas, RS
Lp.B.10seg.30m.13M


Christóvão Pereira de Abreu foi figura chave na formação do Rio Grande do Sul. Por sua iniciativa, a ligação terrestre entre o sul e a cidade paulista de Sorocaba se transformou na importante rota dos tropeiros. Foi também um dos responsáveis pela fundação de Rio Grande e Porto Alegre. Numa sesmaria de sua propriedade, em 1849, seria inaugurado um dos mais importantes faróis da Lagoa dos Patos, integrando a rede de sinais náuticos tão reclamada pelos navegantes. O primeiro farol consistia de uma simples torre de madeira encimada por um lampião.

 




Em 8 de janeiro de 1861, foi inaugurada uma vistosa torre de alvenaria de 28 metros equipada com um aparelho de luz catóptrico de luz fixa, com 12 milhas de alcance, substituído em 1904 por um dióptrico de 5ª ordem BBT. O movimento das águas da lagoa aos poucos vem ameaçando essa estrutura - as casas dos faroleiros já se foram, mas a torre resiste, constituindo-se numa das atrações do município de Mostardas, que conta ainda com outros faróis nas proximidades.

O farol Cristóvão Pereira foi automatizado em 1929 com a instalação de uma lanterna AGA à gas acetileno. A lanterna atual é de acrílico e funciona com energia solar. Uma reforma em 1992 deixou a torre com a aparência atual.



Foto aérea, pelo Comandante Geraldo Knippling.


O farol CAPÃO DA MARCA

31 18,85S / 51 09,87W Tavares, RS
LpL.E.10seg.19m.13M

Vinte e dois anos depois entraram em operação os primeiros faróis da lagoa, entre eles Capão da Marca, próximo à cidade de Tavares, inaugurado em 5 de setembro de 1849 - uma torre de madeira com pouco mais de 7 metros de altura, equipada com um lampião, cuja luz tinha alcance de 5 milhas.


Em 25 de março de 1881 foi aceso o novo farol. Uma torre de ferro da marca francesa Sautter, Lemonnier & Cie com um aparelho de luz fixa de 4ª ordem, que aumentou seu alcance para 11 milhas. A montagem foi dirigida pelo próprio Diretor de Faróis, CF Cerqueira Lima. O farol de 14 metros, exemplar único no país, foi pintado de roxo-terra por volta do início do século XX e assim permaneceu até sua automatização (com equipamentos AGA à gás acetileno) em 1926, quando passou á exibir luz encarnada. Atualmente opera com energia fotovoltaica.

Nas imediações, os faróis Mostardas, Solidão e Capão da Marca de Fora iluminam o trecho banhado pelo oceano.





O farol do ESTREITO

O Farol do Estreito, a 24mn a leste da cidade de Pelotas, foi construído na França e dotado de uma tocha, sinalizava o acesso sul da Lagoa dos Patos.


Em 1955 o Farol do Estreito foi transformado em farolete.

Estima-se que a fotografia seja do início do século XX.

Até a alguns anos atrás, não se tinha certeza de que havia uma casa de faroleiro junto ao mesmo, mas por essa fotografia tirada em 1904, vê-se que tinha uma estrutura logo abaixo do farol.




Farol do BUJURU

O antigo Farol de Bujuru foi construído junto com os faróis de Itapuã, Cristóvão Pereira e Ponta Alegre (este na Lagoa Mirim). Estas obras iniciaram no ano de 1858.

Esta foto de autoria do Dr. Hugo Altmayer é de meados da década de 50, pouco antes do farol ruir.

O projeto era o mesmo, com exceção ao de Itapuã, com a diferença que Cristóvão tem 30 m de altura e os outros 2 apenas 20 metros. Bujuru já caiu. Ponta Alegre está abandonado, mas em seco. O pobre do Cristóvão está ruindo aos poucos. Há cerca de 33 anos, tinha ainda a casa do faroleiro, o pátio e as figueiras; coisas que hoje não existem mais, foram comidas pelas águas.

Quem passa pela ponta de Bujuru avista uma ilhota, afastada cerca de 100 m da ponta de areia. Aquilo é a ruína do farol.



Note-se que ele foi construído a cerca de 100 m da ponta de areia, para dentro de terra é claro. Logo a ponta recuou perto de 200 m ao longo destes 150 anos.







Quando passei por lá, em 2015 e 2017 só encontrei as ruínas...



Farol da PONTA ALEGRE

Único farol existente na Lagoa Mirim é o da Ponta Alegre. Trata-se de um antigo farol sinalizador marítimo de embarcações na Lagoa Mirim, hoje em ruínas. É possível a visitação interna, porém sem orientação.

O Farol da Ponta Alegre está localizado no município de Arroio Grande-RS, nas seguintes coordenadas geográficas: Latitude 32°24'52.75"S e Longitude 52°45'29.30"O.


O ponto foi inaugurado em 1908, com o crescimento da navegação na Lagoa Mirim, garantindo tranquilidade aos navegadores, principalmente à noite. Classificado como de 5ª ordem, o Farol tem torre quadrangular de alvenaria com altura de 17 metros, e o monumento pode ser visto a cerca de oito milhas de distância pelos navegadores.

Localizado a cerca de 30 quilômetros da sede do município, a chegada ao Farol se dá por estradas de difícil trafegabilidade, especialmente durante o período de chuvas, já que são acessos localizados na chamada zona baixa da cidade. Inclusive, em um determinado trecho, a estrada corta propriedades particulares.

Imagem de 2016, da expedição Graxaim na Lagoa Mirim.

Imagem de 2016, da expedição Graxaim na Lagoa Mirim.

Imagem de 2016, da expedição Graxaim na Lagoa Mirim.

Desativado desde 1950, o Farol da Ponta Alegre faz parte dos pontos turísticos de Arroio Grande e tem sido tema de debate ao longo dos últimos anos por aqueles que desejam que o local seja transformado em praia pública, e por quem defende a ideia de mantê-lo somente para visitação turística, como forma de garantir sua preservação e a das belezas naturais da região do Farol.

Imagem de 2016, da expedição Graxaim na Lagoa Mirim.



Algumas abreviaturas e seus significados:
Lp. Lampejo curto
B. Luz Branca
10s Período do lampejo (luz e eclipse), em segundos
30m Altitude da luz do farol, em metros
13M Alcance luminoso, em milhas náuticas
(SG) Sem guarnição (sem faroleiro)

Links e Referências:

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