25/02/2015

Expedição Lagoa dos Patos 360º: 6º dia - Ponta do Bojuru - Pier Brum

(Trajeto, saindo da Ponta do Bojuru e parando no Pier Brum, um pouco antes do Farol Capão da Marca.)
 (Trajeto do 6º dia, saindo da Ponta do Bojuru e parando no Pier Brum, um pouco antes do Farol Capão da Marca.)

Dia 6 (09/01/15): Nunca acordávamos cedo: sempre lá pelas 8 horas, para levantar acampamento, tomar café e deixar tudo pronto dentro dos caiaques, para partir pelas 9 horas, 9:15.

No início da remada, pela parte da manhã, fizemos uma travessia, logo depois da ponta do Bojuru. Depois de aproximadamente 3 horas remando, avistamos uma praia onde havia um pequeno trapiche, então pensamos em chegar pois deveria haver alguém por lá. Nos aproximamos de uma casa onde havia uma senhor assistindo televisão, tudo deserto em volta, ele levou um susto, apesar de nossa aproximação ser sempre com muita calma, falando aquele tradicional Buenas, já sem estar usando os óculos escuros nem o chapéu, em sinal de respeito...



Conversamos e explicamos a que vinhamos. E o Sr. Marleu falou: mas, que aventura! Estávamos a 3 dias sem dar sinal para casa, e pedimos emprestado um telefone. Ficar sem avisar a família sempre nos deixava preocupados, pois ficávamos lembrando dos temporais e da preocupação dos nossos familiares, sem nenhuma notícia.


O dono da casa foi muito solícito, nos emprestou o celular que tinha que ser ligado numa antena externa... Fizemos ligações a cobrar e avisamos todos. Além disso, ele também colocou a disposição sua casa, caso quiséssemos pernoitar.





Fizemos um almoço e em torno de 14 horas da tarde, saímos de São José do Norte divisa com Tavares. Chegando o final da tarde, estava se aproximando um grande temporal, vindo do Sul. Antes dele chegar, atracamos os barcos, logo depois de um pequeno vilarejo de pescadores.

Ali existia um bom lugar para acampar, embaixo de uns pinheiros, mas para isso tivemos que subir um baita dum barranco... tivemos que levar os caiaques até lá em cima.

Nem tínhamos montado o acampamento e bateu uma chuvarada feia, temporal mesmo, com muito vento... a lagoa ficou bem agitada.


Sorte nossa que encontramos um quiosque, o Pier Brum, no meio do mato, para nos abrigarmos... Ele ficava depois da cerca, mas mesmo assim entramos e ficamos ali por um bom tempo, até o temporal passar.







Depois de um tempo me liguei que era o local onde os amigos Ligeiro e João Mauro falaram que tinham ficado...



Esperamos acabar o temporal, para depois montar o acampamento. Logo a natureza nos presenteou com um bonito arco-iris...




O final de tarde estava muito bonito, o céu parecia estar pegando fogo, o horizonte estava vermelho.






Naquele dia ficamos pensando: num puta temporal, no final da remada, achar um quiosque no meio da costa Leste... seria sorte, acaso, destino, ajuda de algo maior que nós? Não sei... Mas vale o questionamento...
Localização exata do Pier Brum (31°24'22.86"S, 51°11'58.31"O). Fica dentro da propriedade privada Haras Itapuã Sul, do proprietário Ricardo Marantes.

24/02/2015

Expedição Lagoa dos Patos 360º: 4º e 5º dia - Ponta dos Lençóis - Ponta do Bojuru

 
Dia 4 (07/01/2015): Na manhã deste quarto dia não conseguimos remar, devido a grande quantidade de chuva que ainda caía. Então ficamos abrigados, dormindo, esperando passar a chuva e o vento, que foram cessar perto do meio-dia. Com o atraso, a ideia era remar uns 25 km, passar a vila do Estreito ou chegar até as Cariocas.

Foi o primeiro contato com aquela estranha sensação de não poder ir para frente... de precisar esperar que algo terminasse para que pudéssemos seguir viagem.

Também começamos a aprender a ver os dois lados em todas as situações: em noites de chuva, apesar de apavorados com os primeiros temporais, era possível ver que depois do temporal, normalmente o vento vinha do Sul, nos ajudando a subir a costa Leste. Então, uma noite ruim era sinal de um bom dia de remada. No entanto, também tinham as coisas ruins no outro dia, como por exemplo, ter que vestir roupas totalmente molhadas logo depois de acordar... isso era bem ruim.

Fizemos a volta na Ponta dos Lençóis e depois de algumas horas de remada, paramos antes de umas casinhas, num lugar que é conhecido como Estreito. Logo veio um pescador de moto puxar conversa: era o Josiel. Ele nos ofereceu água e perguntou se não queríamos pernoitar na casa dele. Disse que as vezes levava peixes para vender na Z3. O Anderson pegou carona na moto e foi buscar água, depois voltou, conversamos mais um pouco e fomos embora, aproveitar as boas marolas vindas do Sul.


Naquele momento, ainda estávamos nos acostumando com essa coisa de falar com todos os desconhecidos... então, antes deles chegarem, já deixávamos uma faca na cintura, em caso de necessidade. Pura ilusão... Sempre fomos bem recebidos, bem tratados. Hoje tenho muita vergonha disso.

No caminho, já no final da tarde, tentamos chegar perto de um barco da FURG, que fazia estudos na região... eles fugiram quando estávamos nos aproximando... Logo depois, encontramos um barco de pescadores. Esses pescadores, o Lair e o Antônio Carlos, falaram "vocês são corajosos remando tão abertos, se bate um terral vocês não voltam mais...". Nós perguntamos se eles tinham algum peixinho para nos dar e eles nos ofereceram duas tainhas. Eles jogaram os dois peixes dentro do meu cockpit, agradecemos e seguimos...





Muito junco na margem, até encontramos uma entrada. Acampamos então, num local cujo nome dito pelos pescadores era "Cariocas". Era um local feio, com muito junco e mosquito. O Anderson me deu uma aula sobre como limpar um peixe.

A montagem da barraca aconteceu na chuva... ficamos meio desesperados, pois não estávamos conseguindo montar a barraca por causa da chuva e já estava escurecendo... Aquela foi mais uma noite de chuva.







Dia 5 (08/01/15): A meta para o quinto dia era alcançar os restos (ruínas, destroços) da construção do Farol do Bojuru, um trecho longo de remada. Mas antes disso, estávamos na expectativa de avistar os famosos Engenhos da Barra Falta... Perto das 15 horas da tarde, paramos um pouco antes dos Engenhos, que o Anderson já havia avistado há algum tempo...




Mesmo com as madeiras muito molhadas, conseguimos assar as tainhas no fogo de chão.


Depois de comer, logo chegamos aos famosos Engenhos do Bojuru, que era uma referência na nossa carta náutica. Ao chegar nos engenhos, precisávamos de água, e encontramos o Sr. Nereu, dirigindo um trator, arrumando o alambrado, que nos autorizou a descer... Nos conseguiu água, conversou um pouco e depois foi olhar nossos barcos... quando estávamos saindo ele dizia "vocês vem por esse marzão, tem louco pra tudo, não estou acreditando" e se matava rindo... pessoal divertido aquele.





Ao final do dia, chegamos nas ruínas do Farol do Bojuru... tiramos algumas fotos, ficamos felizes por estamos em um ponto que era conhecido no mapa... Acampamos ali perto... Fiz uma massa, tomei um bom banho de lagoa... tudo isso depois de ter terminado de montar o acampamento... demos também umas voltas pela redondeza, para conhecer o lugar.










Nestes dois dias de remada fizemos aproximadamente 60 km e encontramos algumas pessoas por esse caminho. A bondade e alegria deles já era um diferencial... nos contagiava... no enchia de alegria, de força e esperança para continuar remando e descobrindo, a cada dia, um pouco mais sobre as pessoas e os locais existentes na Lagoa dos Patos...

23/02/2015

Expedição Lagoa dos Patos 360º: 3º dia - Ponta Rasa - Ponta dos Lençóis



Dia 3 (06/01/2015): Na manhã do terceiro dia, acordamos muito cansados devido ao esforço de ter remado quase todo tempo contra o vento e a corrente no dia anterior, além de termos terminado de remar quase 20 horas da noite. Acordamos mais tarde que o planejado, fizemos todo o ritual de café da manhã e da arrumação do acampamento. Logo um pescador passou pelo nosso acampamento para ir no seu barco verificar algumas redes... puxamos uma curta conversa com ele.




Já nas primeiras horas de remada nos olhamos e eu disse "bem que podia ter um restaurante no tal Camping do Barranco...". Logo em seguida passamos por uma casa e tinha um tiozinho tomando um mate... paramos e puxamos assunto...


Eu estava com um desconforto, devido as bolhas nas mãos... tentei usar as luvas compradas na ferragem, mas não tinha aderência no remo Rasmussen de fibra... tentei várias formas de remar... até que troquei pro Werner plano, cuja pegada era diferente e não resvalava da mão quando eu usava luva... Depois deste dia, as bolhas viraram calos e nunca mais precisei usar luvar... não tive mais dores nas mãos...

Mais adiante paramos em uma pequena prainha e caímos no sono, deitados na areia... acho que dormimos quase 1 hora, escutando apenas o barulho das ondas.


Após o sono, a carta náutica indicava que estávamos próximos de uma comunidade de pescadores, mas a que distância estaríamos? Será que há restaurantes por lá? Quando nós ultrapassamos alguns juncos conseguimos ver uma construção que poderia ser duas coisas: um restaurante ou uma igrejinha.


Felizmente, era o restaurante "Beira da Lagoa", que ficava na comunidade chamada Barranco. Paramos por lá e pedimos uma porção de arroz, feijão, salada de batata com molho de camarão e filés de linguado, comemos e pedimos mais duas porções de peixe para levar para a janta. Ficamos lá um tempo até o sol dar uma baixada...





Antes de sair, recarregamos as garrafas usando água de poço... a água era gelada e muito boa...




Dali remamos até a Ponta dos Lençóis. Naquele final de tarde a navegação visual nos deu um golpe e acabamos entrando muito num saco no final da Ponta dos Lençóis. Para chegar na terra, enfrentamos vento contra de frente e estávamos brigando contra o tempo, pois um temporal estava quase chegando...







Antes do temporal estávamos até dando risada da situação... depois o bicho pegou... 


Armamos acampamento na única árvore que tinha perto da margem. Neste dia remamos aproximadamente 30 km... 


Às 22 horas da noite caiu um temporal muito forte, o vento pegando, durou em torno de 20 minutos e molhou tudo dentro da barraca.

Eu tinha uma lona reserva, que usamos para colocar dentro da barraca e não dormir no chão molhado... Depois de arrumarmos tudo, dormimos um pouco apavorados ainda. Pelas 6 horas da manhã veio um novo temporal com muitos raios. Daí não tínhamos mais onde dormir e ficamos conversando até o amanhecer. Será que vamos aguentar? nos perguntávamos. Mas, como todo desafio na vida, teremos obstáculos e temos que enfrentar e seguir em frente.

Foram dois temporais fortes, com muito vento, chuva e raios. A barraca parecia que ia levantar voo a qualquer instante. Como a lona não tapava toda a barraca, várias vezes tivemos que secar a barraca por dentro pois um pouco de água sempre entrava...